A discussão sobre minerais críticos e estratégicos no Brasil tem ganhado destaque, especialmente diante da transição energética e da crescente demanda por tecnologias limpas. Contudo, é necessário esclarecer um equívoco recorrente: a ideia de que apenas minerais como o lítio, o cobalto, o níquel dentre alguns outros poucos devem ser considerados críticos ou estratégicos.
De fato, esses minerais são estratégicos para setores como a mobilidade elétrica, a indústria de baterias e a descarbonização da matriz energética global. No entanto, limitar o conceito apenas a esses insumos é uma visão reducionista e incompleta da realidade mineral brasileira.
Todos os minerais podem ser críticos ou estratégicos, a depender do contexto regional, do impacto socioeconômico que geram e da função que exercem em cadeias produtivas locais e nacionais. Em certas regiões do país, a areia, essencial para a construção civil, é o insumo mineral mais estratégico. Em outras, o carvão ainda exerce papel fundamental na matriz energética ou na indústria local. Há também regiões em que a argila sustenta cadeias cerâmicas inteiras, com papel vital na economia e no emprego.
Portanto, a definição de um mineral como estratégico não pode ser feita de forma genérica e descolada da realidade regional. É necessário que haja, antes da aplicação das categorias “crítico” e “estratégico”, uma classificação abrangente e criteriosa de todos os minerais, considerando aspectos como:
• Relevância econômica e social local e nacional;
• Disponibilidade geológica e grau de exaustão;
• Importância para cadeias industriais e infraestrutura;
• Riscos geopolíticos e de suprimento externo;
• Impactos ambientais associados à sua extração e uso.
Além disso, é fundamental lembrar que os bens minerais são finitos. Uma vez extraído e consumido, o recurso mineral não se renova no tempo geológico humano. Isso por si só justifica o seu enquadramento como recurso estratégico, exigindo gestão inteligente, sustentável e com visão de longo prazo.
A política mineral brasileira precisa, portanto, evoluir para um modelo de classificação que reconheça a diversidade e a importância de todos os minerais — grandes ou pequenos, nobres ou comuns — dentro de suas realidades territoriais. Só assim será possível planejar de forma justa, sustentável e eficiente o uso dos recursos minerais do país.
“É difícil imaginar uma maneira mais perigosa de tomar decisões do que deixá-las nas mãos de pessoas que não pagam o preço por estarem erradas”. (Thomas Sowell)
Wagner Pinheiro
Presidente do IDM Brasil